
Para coordenador da Articulação dos Povos Indígenas, militarização do órgão “reaviva ideologia da ditadura” e prejudica processos de demarcação
Brasil de Fato – Das 24 coordenações regionais da Fundação Nacional do Índio (Funai) na Amazônia Legal, 14 são lideradas por militares. Os cargos são ocupados por quatro capitães, quatro tenentes, um tenente-coronel, um paraquedista e quatro fuzileiros navais – um deles da reserva.
A proporção de militares na chefia das coordenações é de 58,3% nos nove estados da Amazônia Legal. Nas demais regiões do país, a incidência é de 26,7%.
“Além de ser estratégica no sentido militar, porque tem muitos interesses internacionais, a Amazônia Legal também é atrativa para exploração dos recursos de forma indevida, em conluio com as grandes corporações, principalmente na extração de madeira, na mineração e no agronegócio”, analisa Dinaman Tuxá, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
O líder indígena explica qual seria, na avaliação da Apib, o perfil ideal para chefiar as 39 coordenações regionais da Funai. “É um cargo que atende na ponta, que tem relação direta com os indígenas. E o perfil mais adequado são agentes indigenistas, sociólogos, antropólogos, pessoas que conhecem a causa, têm sensibilidade e vão trabalhar para que se cumpra a missão institucional da Funai, que é proteção e promoção dos direitos dos povos indígenas”.
‘Ideologia da ditadura’
Secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Antônio Eduardo Cerqueira de Oliveira também vê com preocupação a presença crescente de militares no órgão.
“Os militares têm a concepção de que o indígena não contribui para a soberania do país. Eles são contra até a utilização do termo povos indígenas, e também são contra a autonomia dos povos sobre a gestão e demarcação dos seus territórios, buscando a ‘integração’ dos indígenas à sociedade nacional”, avalia.